A moral que a bíblia apresenta.


Leia antes:

“Vedes aqui vos tenho ensinado estatutos e juízos, como me mandou o Senhor meu Deus; para que assim façais no meio da terra a qual ides a herdar. Guardai-os pois, e cumpri-os, porque isso será a vossa sabedoria e o vosso entendimento perante os olhos dos povos, que ouvirão todos estes estatutos, e dirão: Este grande povo é nação sábia e entendida.” Deuteronômio 4:5-6

Estamos estudando uma série de artigos que tratam do por que podemos ter a bíblia como a base de nossa fé. Quais as razões pelas quais podemos confiar que a bíblia é a inerrante Palavra de Deus.
Vimos no artigo passado que a base teológica da bíblia é a Torá. Mas o que é a Torá?
Torá é uma palavra hebraica que significa “instrução”. Esse conjunto de cinco livros em sua maior porção trata das Leis e dos mandamentos de Deus para a humanidade. É a Torá que revela a moral divina para o homem.
No ponto mais importante da Torá temos os dez mandamentos, que são mandamentos universais, ordenados a todos os povos, e refletem aquilo que é mais comumente aceito como MORAL.
Destas Dez Palavras o Senhor Deus instruí o seu povo, dentre outras coisas a não assassinar, não dizer falso testemunho, não cobiçar as coisas do próximo, não adulterar, não furtar, honrar os pais. Assim vemos que dificilmente encontraremos alguém que considerem esses pontos como irrelevantes ou não aplicáveis para moral humana.
Não apenas isso, mas no livro de Levíticos vamos encontrar instruções que todos atestam, sem sombra de dúvidas, serem instruções justas.
“Ninguém, pois, engane ao seu próximo; mas terás temor do teu Deus; porque eu sou o Senhor vosso Deus.” Levítico 25:17
“E, quando teu irmão empobrecer, e as suas forças decaírem, então sustentá-lo-ás, como estrangeiro e peregrino viverá contigo.” Levítico 25:35
“Usem balanças de pesos honestos, tanto para cereais quanto para líquidos. Eu sou o Senhor, o Deus de vocês, que os tirei da terra do Egito.” Levítico 19:36
“Levantem-se na presença dos idosos, honrem os anciãos, tema o seu Deus. Eu sou o Senhor.” Levítico 19:32
Vamos perceber que toda a Torá apresenta mandamentos dessa natureza, evocando a justiça, a reciprocidade (tratar outros como gostaria de ser tratado), a veracidade.
No entanto, no último século, muitos levantaram contra a moral apresentada pela Torá, fazendo acusações graves, não somente quanto a sua ineficiência e inaplicabilidade, mas também acusando de ter algumas instruções imorais, e afirmando que a consciência moral do homem moderno é superior a moral que a Torá apresenta.
Estas acusações têm sido propagadas principalmente pelos meios ateístas que, por negarem a existência de Deus, classificam a bíblia como um livro produzido por pessoas arcaicas, para uma época arcaica.
Vamos elencar algumas das graves acusações feitas contra a Torá e vejamos se essas acusações têm algum fundamento.
Primeira acusação é de que a Torá em muitos casos ordena a morte daqueles que descumprem suas prescrições, sendo sanguinária e ordenando morticínio.
De fato há na Torá orientações para se aplicar a pena de morte em casos de idolatria, perversão sexual e rebeldia contra os pais. No entanto, antes de acusar a Torá de ser sanguinária, devemos entender qual era o propósito da Torá ser dada a Israel, e o propósito da própria nação de Israel.
Primeiro que Deus separou Israel para ser um povo santo, separado das demais nações, uma nação pela qual Deus deveria ser conhecido.
“Porque povo santo és ao Senhor teu Deus; o Senhor teu Deus te escolheu, para que lhe fosses o seu povo especial, de todos os povos que há sobre a terra.” Deuteronômio 7:6
Assim, a prática dos filhos de Israel não poderia ser semelhante às práticas dos demais povos, que faziam o que era abominável a Deus.
“Portanto guardareis o meu mandamento, não fazendo nenhuma das práticas abomináveis que se fizeram antes de vós, e não vos contamineis com elas. Eu sou o Senhor vosso Deus.” Levítico 18:30
Assim a Lei era mais dura para com Israel, porque Israel deveria ser exemplo para as nações, para que através de Israel todos os povos soubessem que Deus abomina essas práticas.
“E não andeis nos costumes das nações que eu expulso de diante de vós, porque fizeram todas estas coisas; portanto fui enfadado deles.” Levítico 20:23
No entanto, a aplicação da pena de morte não era feita por qualquer um e de qualquer forma. Este é um grande engano desses que acusam a Torá de ser injusta.
A Torá, primeiro, ordena que sejam levantados JUÍZES sobre o povo, e veja a qualidade desses juízes.
“Tomai-vos homens sábios e entendidos, experimentados entre as vossas tribos, para que os ponha por chefes sobre vós.” Deuteronômio 1:13
“...no mesmo tempo mandei a vossos juízes, dizendo: Ouvi a causa entre vossos irmãos, e julgai justamente entre o homem e seu irmão, e entre o estrangeiro que está com ele. Não discriminareis as pessoas em juízo; ouvireis assim o pequeno como o grande; não temereis a face de ninguém, porque o juízo é de Deus; porém a causa que vos for difícil fareis vir a mim, e eu a ouvirei.” Deuteronômio 1:16-17
Assim, haviam juízes sobre o povo para que a Lei fosse aplicada, e as pessoas fossem julgadas conforme a Lei, e esses juízes deveriam ser imparciais.
Outro ponto é que ninguém poderia ser condenado sem que houvessem as devidas testemunhas.
“Por boca de duas testemunhas, ou três testemunhas, será morto o que houver de morrer; por boca de uma só testemunha não morrerá.” Deuteronômio 17:6
“Uma só testemunha contra alguém não se levantará por qualquer iniqüidade, ou por qualquer pecado, seja qual for o pecado que cometeu; pela boca de duas testemunhas, ou pela boca de três testemunhas, se estabelecerá o fato.” Deuteronômio 19:15
Assim vamos ver que a Torá apresenta sim casos de pena de morte, porém essas penas deveriam ser feitas após um julgamento justo, após investigação, com testemunhas que confirmassem toda a acusação.
A Torá também mostra que a testemunha poderia ser condenada a mesma pena que o acusado teria, se descobrissem que a testemunha estava testemunhando em falso.
“Quando se levantar testemunha falsa contra alguém, para testificar contra ele acerca de transgressão, então aqueles dois homens, que tiverem a demanda, se apresentarão perante o Senhor, diante dos sacerdotes e dos juízes que houver naqueles dias.
E os juízes inquirirão bem; e eis que, sendo a testemunha falsa, que testificou falsamente contra seu irmão, far-lhe-eis como cuidou fazer a seu irmão; e assim tirarás o mal do meio de ti.
Para que os que ficarem o ouçam e temam, e nunca mais tornem a fazer tal mal no meio de ti. O teu olho não perdoará; vida por vida, olho por olho, dente por dente, mão por mão, pé por pé.” Deuteronômio 19:16-21
Assim, o que a Torá prescreve não é um morticínio sem causa, mas apresenta um julgamento justo para casos de transgressões graves.
Outro ponto interessante é que neste contexto, essas leis só se aplicam à NAÇÃO de Israel, e mesmo assim só poderiam ser aplicadas se houvessem juízes devidamente estabelecidos, pois sem juízes não havia como haver julgamento.
Por isso encontramos no novo testamento uma passagem em que Jesus aparentemente inocenta uma adultera.
“E os escribas e fariseus trouxeram-lhe uma mulher apanhada em adultério; e, pondo-a no meio, disseram-lhe: Mestre, esta mulher foi apanhada, no próprio ato, adulterando. E na lei nos mandou Moisés que as tais sejam apedrejadas. Tu, pois, que dizes?” João 8:3-5
Estes escribas e fariseus estavam tentando a Jesus. Eles queriam ter algo do que acusá-lo, tanto na Torá como na lei romana.
Israel neste momento estava debaixo do Império Romano, não era uma nação independente, e por essa mesma causa não tinham juízes devidamente estabelecidos. O principal tribunal israelense neste tempo era o sinédrio, e este não tinha o poder de condenar ninguém à morte. Apenas Roma poderia condenar à morte.
Quando os escribas e fariseus levam o caso a Jesus, sem ser ele um juiz devidamente estabelecido, eles dizem “e na lei nos mandou Moisés que as tais sejam apedrejadas. Tu, pois, que dizes?”. Se Jesus dissesse para não matá-la, acusariam-no de contrariar a Lei de Moisés, se dissesse para matá-la, acurariam-no de contrariar a lei de Roma.
Outro ponto que salta aos olhos é que aqueles escribas e fariseus não estavam interessados em fazer justiça, para que o nome de Deus não fosse profanado entre as nações por práticas ímpias de seu povo, como era o principio moral do mandamento, eles estavam preocupados unicamente em “pegar” Jesus.
E isso fica tão evidente que eles mesmos afirmaram terem pegado a mulher em flagrante adultério, mas não apresentaram o homem com quem ela estava adulterando. Estranho não?
Jesus então devolve para eles mesmos a responsabilidade dizendo:
“Aquele que de entre vós está sem pecado seja o primeiro que atire pedra contra ela.” João 8:7
Aqueles homens não entendiam que o princípio da Lei era tornar Israel um povo Santo e diferente dos demais povos, e não simplesmente condenar o culpado a morte. A finalidade era mostrar a todas as nações que Deus vê a idolatria, a perversão sexual e a rebeldia contra pais algo mui abominável, digno de morte não apenas física, mas também espiritual.
O próprio Deus afirmou:
“Desejaria eu, de qualquer maneira, a morte do ímpio? diz o Senhor DEUS; Não desejo antes que se converta dos seus caminhos, e viva?” Ezequiel 18:23
Assim, nunca foi a vontade do Eterno a morte do ímpio, mas era necessário a Torá prescrever casos de pena de morte, para que a nação de Israel cumprisse o seu papel como nação santa, sacerdócio eleito, povo escolhido dentre as nações para representar o nome do Senhor.
Naquela situação em que levaram a adúltera até Jesus, Israel estava debaixo de julgo justamente por não ter cumprido esse seu papel.
Jesus ensina então o principio maior da Torá, que o pecador se arrependa, e volte-se para Deus. Jesus viu naquela mulher arrependimento, e não a condenou, mas a exortou dizendo:
“E disse-lhe Jesus: Nem eu também te condeno; vai-te, e não peques mais.” João 8:11
Em nenhum momento Jesus se referiu ao ato daquela mulher como “não digno de morte”, mas ordenou a ela que abstivesse do pecado.
Outra acusação comum, e que segue essa mesma vertente, é de que a Torá ordenou o extermínio de nações inteiras, quando Israel conquistou a terra de Canaã.
O que os acusadores da Tora se esquecem é de ver o que aqueles habitantes de Canaã praticavam para despertar tamanha ira de Deus.
Os cananitas, além de praticarem todo o tipo de perversão sexual (pedofilia, zoofilia, homossexualismo e toda sorte de orgia) adoravam a Moloque.
A adoração a Moloque era feita queimando crianças com requintes de crueldade.
Além de adorarem a um outro deus, que não o Deus dos Céus, essa adoração compreendia em matar os próprios filhos, queimando-os lentamente, em sacrifício a Moloque.
Assim, quando Deus ordenou a destruição desses povos, não foi motivado por ódio, mas sim para que a Justiça de Deus fosse manifestada e aquela abominação chegasse ao fim.
Outra finalidade de Deus ordenar a destruição desses povos era que, com o passar do tempo, eles não viessem a contaminar o povo de Israel.
“Porém, das cidades destas nações, que o Senhor teu Deus te dá em herança, nenhuma coisa que tem fôlego deixarás com vida. Antes destruí-las-ás totalmente: aos heteus, e aos amorreus, e aos cananeus, e aos perizeus, e aos heveus, e aos jebuseus, como te ordenou o Senhor teu Deus. Para que não vos ensinem a fazer conforme a todas as suas abominações, que fizeram a seus deuses, e pequeis contra o Senhor vosso Deus.” Deuteronômio 20:16-18
Outra acusação comum feita contra a Torá é de que ela, de alguma forma, seria conivente com o estupro.
A base que os acusadores tomam para isso está em Deuteronômio, onde diz:
“Quando um homem achar uma moça virgem, que não for desposada, e pegar nela, e se deitar com ela, e forem apanhados, então o homem que se deitou com ela dará ao pai da moça cinqüenta siclos de prata; e porquanto a humilhou, lhe será por mulher; não a poderá despedir em todos os seus dias.” Deuteronômio 22:28-29
No entanto os acusadores se esquecem de um ponto importante, o contexto cultural em que esta ordenança foi feita.
A virgindade de uma jovem era a sua honra, dificilmente alguém se casaria com uma jovem não virgem neste tempo, pois ela seria tida como quem praticou prostituição.
Assim, um homem que se deitasse com uma mulher virgem, a desonrando, deveria ser responsabilizado pagando o dote da jovem e casando-se com ela, pois dificilmente ela conseguiria ter um casamento após este ato.
No entanto, a ordenança servia como um parâmetro para que o juiz julgasse esse tipo de situação, e não uma determinação do que se fazer, ou seja, caso não fosse a vontade do pai ou da jovem este casamento, o juiz poderia aplicar outra pena.
E não podemos nos esquecer que uma das penas alternativas para este caso seria a condenação a morte do agressor, pois pouco acima vemos como a Torá vê o estupro:
“... porque, como o homem que se levanta contra o seu próximo, e lhe tira a vida, assim é este caso.” Deuteronômio 22:26
O que vemos é que a ordenança foi apresentada para proteger a mulher, e não para obriga-la a se casar com seu estuprador como acusam. O propósito da ordenança era outro.
O que vemos no geral é que todas as acusações que fazem contra a Torá é fruto de extrair textos isolados, ou de ignorar o seu contexto.
A Torá é um conjunto de instruções, que contem ordenanças e mandamentos para nós. O que a Torá ensina, acima de tudo, é que Deus abomina a idolatria, a ira sem causa, o ódio, as perversões sexuais, a mentira, a falsidade, a injustiça, a falta de respeito para com o próximo.
Ela nos apresenta como Deus vê a iniquidade do homem, aponta os nossos erros, e mostra aquilo que precisamos abandonar para servir a Deus.
Assim, a Lei de Deus aponta os nossos pecados, e mostra quão terríveis são as consequências de nossos pecados diante de Deus. Talvez você se assuste com a Torá apresentar o idolatra como digno de morte, mas essa é a maneira como Deus vê a idolatria.
Nossos pecados são terríveis, e as suas consequências são gravíssimas, e como Paulo disse:
“Porque todos pecaram e destituídos estão da glória de Deus;” Romanos 3:23
Mas a Torá também apresenta que através de um sacrifício os nossos pecados podem ser perdoados, e ela apresenta de forma figurada, aquilo que Cristo fez na cruz por nós.
Pois, assim como em Levíticos, o sacrifício de um animal perfeito, poderia servir de expiação pelos nossos pecados, através da morte de Jesus Cristo, e da sua ressurreição, podemos alcançar a perdão.
Cristo é o Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo! Ele, mesmo sem conhecer o pecado, recebeu a condenação do pecado, ou seja, a morte. E por isso o seu sangue pôde ser apresentado diante de Deus em nosso favor.
Assim, Deus nos mostra sua Graça e Favor, em que mesmo sendo todos dignos de morrer, Ele nos dá a Vida através de Jesus Cristo.
Mas se somos alcançados pela Graça de Deus, e temos recebido perdão pelos nossos pecados, também devemos abandonar as práticas que são consideradas abominação diante de Deus.
Por isso a Torá é “instrução”, pois ela nos instrui a maneira como devemos viver para que nossa vida seja agradável diante de Deus.
Veja que mesmo em meio a Lei, a Graça de Deus se manifesta. A Torá apresenta uma moral muito superior a qualquer outro escrito. E mesmo que não venhamos a praticar as instruções da Torá em sua forma, seus princípios morais tem muito a nos ensinar.
A Lei vem de Deus, e por isso ela é perfeita e Eterna!


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