Qual a importância da Lei para a Salvação?



É muito comum quando começamos a falar sobre as instruções da Torá, dos Profetas, e dos ensinos apostólicos, alguns crentes argumentarem: Isso não é necessário para a Salvação, pois somos Salvos pela fé e não por obras.
Sim, a Salvação é pela Graça de Deus, alcançada por meio da fé, isso é um fato bíblico indiscutível, mas será que tais "crentes" entendem o que é a Salvação que temos em Cristo?
Quando fomos evangelizados fomos ensinados de que estávamos perdidos em nossos pecados, separados de Deus, e condenados ao inferno.
Fomos ensinados que Cristo morreu na cruz em nosso lugar, e que hoje oferece a Salvação a todos os que nEle creem.
E fomos convidados a arrepender de nossos pecados e confessá-los a Cristo, crendo que apenas nEle temos o perdão de Deus, e que, se crermos nEle, seremos recebidos no Reino dos céus após essa vida terrena.
Esta é a mensagem do Evangelho. Eu creio nesta mensagem. Ela abençoou minha vida e tem abençoado a muitos. Por ela muitos têm encontrado a Salvação.
Mas, apesar de esta mensagem estar correta, ela não diz tudo ainda sobre a Salvação.
Se apenas essa compreensão do perdão de Cristo já me abençoa, e foi capaz de mudar minha vida, imagine o quão abençoado serei se compreender com mais exatidão sobre a Salvação conquistada por Cristo na cruz?
Infelizmente a maioria dos cristãos aborda a Salvação como sendo a garantia do céu após a morte. Essa visão simplista tem furtado muitos crentes a viverem mais plenamente sua fé.
Precisamos entender que a maior esperança das Escrituras nunca foi "o céu após a morte", mas sim a RESSURREIÇÃO dentre os mortos.

"mas os que são julgados dignos de alcançar o mundo vindouro, e a ressurreição dentre os mortos,..." Lucas 20:35a

"os que tiverem feito o bem, para a ressurreição da vida, e os que tiverem praticado o mal, para a ressurreição do juízo." João 5:29

"tendo esperança em Deus, como estes mesmos também esperam, de que há de haver ressurreição tanto dos justos como dos injustos." Atos 24:15

"Porque, assim como por um homem veio a morte, também por um homem veio a ressurreição dos mortos." 1 Coríntios 15:21

Os textos acima apenas exemplificam como a esperança que as Escrituras nos apontam não se limita a um "céu pós-morte", um “paraíso espiritual”, mas a RESSURREIÇÃO para uma vida plena e eterna, com nosso Senhor reinando sobre toda a terra.
Ter em mente que a nossa maior esperança é a RESSURREIÇÃO implica em entender que este mundo, esta criação, e nossas próprias vidas, necessitam de uma PLENA RESTAURAÇÃO, e que é desejo de Deus operar essa RESTAURAÇÃO.

"...na esperança de que também a própria criação há de ser liberta do cativeiro da corrupção, para a liberdade da glória dos filhos de Deus. Porque sabemos que toda a criação, conjuntamente, geme e está com dores de parto até agora; e não só ela, mas até nós, que temos as primícias do Espírito, também gememos em nós mesmos, aguardando a nossa adoção, a saber, a redenção do nosso corpo." Romanos 8:21-23

Segundo apóstolo Paulo, a ressurreição (redenção do nosso corpo) será o marco para que a criação (todo o cosmos) seja liberta da corrupção ao qual foi sujeita pelo pecado do homem.
E nós, que temos as primícias do Espírito (alcançados pela Graça de Deus), também deveríamos estar ansiosos para esta restauração.
Infelizmente muitos que hoje creem no Messias de Israel, estão aguardando apenas o momento de "ir para o céu", e não compartilham dessa ardente expectativa da restauração prometida.
Alguns parecem até mesmo desejar que todo o mundo seja destruído logo pela ira divina, como foi com Sodoma e Gomorra, e se esquecem de que, quando o pai Abraão ouviu sobre o juízo de Deus, intercedeu pelos pecadores de Sodoma, e não se alegrou com sua destruição. E isso é reflexo da Salvação que já estava sendo gerada no coração de Abraão.
Devemos entender que a Salvação é a reconciliação que temos com o Pai, através da expiação realizada pelo Filho de Deus na cruz.

"Porque se nós, quando éramos inimigos, fomos reconciliados com Deus pela morte de seu Filho, muito mais, estando já reconciliados, seremos salvos pela sua vida. E não somente isso, mas também nos gloriamos em Deus por nosso Senhor Jesus Cristo, pelo qual agora temos recebido a reconciliação." Romanos 5:10-11

Nós, que estávamos perdidos em nossos pecados, agora, pela morte e ressurreição do Filho de Deus, estamos reconciliados com o Pai. E toda a reconciliação implica em relacionamento.
Quando há a reconciliação de um casamento, há uma retomada do relacionamento. E aqui está a importância da Torá, dos Profetas, e do ensino apostólico para todos os Salvos (aqueles que estão reconciliados com o Pai).
A Lei nos traz o conhecimento de Deus, de sua Vontade para o homem.

"E não ensinarão mais cada um a seu próximo, nem cada um a seu irmão, dizendo: Conhecei ao Senhor; porque todos me conhecerão, desde o menor deles até o maior, diz o Senhor; pois lhes perdoarei a sua iniqüidade, e não me lembrarei mais dos seus pecados." Jeremias 31:34

Perceba que o profeta anuncia sobre um tempo em que todos conhecerão a Adonai, a ponto de que ninguém ensinará mais ao seu irmão, porque todos O conhecerão.
Mas o que acontecerá, que todos conhecerão a Adonai?

"Mas este é o pacto que farei com a casa de Israel depois daqueles dias, diz o Senhor: Porei a minha lei no seu interior, e a escreverei no seu coração; e eu serei o seu Deus e eles serão o meu povo." Jeremias 31:33

Mediante a Nova Aliança, a Torá será escrita nos corações e na mente de cada homem e mulher. É a Torá (instrução de Deus) quem nos traz o conhecimento do Senhor.
Assim, a Salvação não deve ser entendida como algo a ser desfrutado apenas no futuro, uma garantia de "céu pós-morte", mas uma reconciliação que tem início imediato no momento em que se crê, e que vai se desenvolvendo mediante um relacionamento com Deus e sua Palavra, até chegar à plenitude.

"Disse-lhe Jesus: Hoje veio a salvação a esta casa, porquanto também este é filho de Abraão." Lucas 19:9

Estas palavras de Jesus a Zaqueu apontam para o momento exato em que a Salvação entrou na vida de Zaqueu. Mas o que havia acontecido com Zaqueu para que evidenciasse tal Salvação?
Ele mesmo havia declarado:

"Zaqueu, porém, levantando-se, disse ao Senhor: Eis aqui, Senhor, dou aos pobres metade dos meus bens; e se em alguma coisa tenho defraudado alguém, eu lho restituo quadruplicado." Lucas 19:8

A declaração de Zaqueu expôs primeiro: o reconhecimento do pecado de Zaqueu; e segundo: sua disposição em obedecer aos mandamentos da Torá:

"Pois nunca deixará de haver pobres na terra; pelo que eu te ordeno, dizendo: Livremente abrirás a mão para o teu irmão, para o teu necessitado, e para o teu pobre na tua terra." Deuteronômio 15:11

"Se alguém furtar um boi (ou uma ovelha), e o matar ou vender, por um boi pagará cinco bois, e por uma ovelha quatro ovelhas." Êxodo 22:1

Zaqueu era um israelita que conhecia a esperança da Salvação. Zaqueu conhecia a Lei e os Profetas, sabia da promessa da Restauração que dizia:

"Também meu servo Davi reinará sobre eles, e todos eles terão um pastor só; andarão nos meus juízos, e guardarão os meus estatutos, e os observarão. Ainda habitarão na terra que dei a meu servo Jacó, na qual habitaram vossos pais; nela habitarão, eles e seus filhos, e os filhos de seus filhos, para sempre; e Davi, meu servo, será seu príncipe eternamente. Farei com eles um pacto de paz, que será um pacto perpétuo. E os estabelecerei, e os multiplicarei, e porei o meu santuário no meio deles para sempre. Meu tabernáculo permanecerá com eles; e eu serei o seu Deus e eles serão o meu povo. E as nações saberão que eu sou o Senhor que santifico a Israel, quando estiver o meu santuário no meio deles para sempre." Ezequiel 37:24-28.

No entanto, mesmo conhecendo sobre a esperança da Restauração, Zaqueu havia se deixado perder, desviando seus pés da Lei, do ensino de Adonai. Mas, ao encontrar-se com Jesus e ver nEle a Salvação de Israel, seu espírito foi vivificado, e em novo ânimo reconheceu que estava falhando para com Deus. Zaqueu arrependeu-se de seus pecados e se dispôs a servir a Adonai de todo o coração, praticando os mandamentos.
Zaqueu não disse em seu coração: “cri no Messias, agora não preciso mais da Torá, sou salvo pela graça”. Muito pelo contrário, por entender que Jesus veio para implantar o Reino de Deus, e restaurar todas as coisas, ele se dispôs a servir a Deus, praticando aquilo que ele já conhecia da Torá.
Zaqueu entendeu que, como discípulo do Redentor de Israel, ele tinha a responsabilidade de ser embaixador dessa redenção, vivendo desde já as Leis do Reino.
Infelizmente muitos querem entrar no Reino de Deus, mas creem não ser importante conhecer e praticar as Leis do Reino. Muitos acham que apenas a “graça” basta: “o importante é ir para o céu”; é o que muitos dizem. Muitos veem a Salvação que temos em Cristo como uma fuga do inferno, e não o ingresso ao Reino de Deus, que como todo o reino, possui Leis.
A relevância da Torá, dos Profetas e do ensino apostólico para a Salvação é muita, pois é ela quem nos instrui para vivermos de fato a Redenção que temos no Filho de Deus. E para vivermos como embaixadores do Reino dos Céus.
Infelizmente muitos cristãos veem a Torá com grande legalismo. Não entendem que a Torá é INSTRUÇÃO para aprendermos de Deus. Olham para a Torá como um conjunto de normas e regras que são obrigatórias. Por vezes, por não conseguirem entender racionalmente algum dos mandamentos, preferem tacha-lo como “revogado pela nova aliança” (mesmo que Jesus tenha declarado não ter vindo abolir a Torá, mas torná-la plena – Mateus 5:17), a fim de não se sentirem obrigados a cumprirem, “facilitando” sua entrada nos céus.
Há sim na Torá mandamentos que são “suprarracionais”, ou seja, não conseguimos racionalizá-los, mas isso não nos impede de aprender com eles a conhecer a Adonai.
Deus nunca se agradou da prática legalista da Torá, mas sempre concedeu graça aos humildes para conhecê-lo através dos mandamentos, e conhecer a Salvação que temos em Jesus Cristo.
Toda a Torá, os Profetas e o ensino apostólico são relevantes para vivermos plenamente nossa Salvação. Não que a Salvação esteja condicionada à observância da Torá, mas que ela nos traz o conhecimento necessário para desfrutarmos da plenitude da Salvação.

Que deixemos de ser simplistas em nossa fé, e busquemos o enriquecimento do conhecimento que vem do Alto, revelado pela Palavra de Deus, miraculosamente escrita em nossos corações e em nossas mentes pela Nova Aliança, inaugurada na morte e ressurreição de Jesus Cristo. Que andemos em novidade de vida, testemunhando com ações e palavras, a Verdade do Reino vindouro.

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