"Pois todos
quantos são das obras da lei estão debaixo da maldição; porque escrito está:
'Maldito todo aquele que não permanece em todas as coisas que estão escritas no
livro da lei, para fazê-las'. É evidente que pela lei ninguém é justificado
diante de Deus, porque: 'O justo viverá da fé'; ora, a lei não é da fé, mas: 'O
que fizer estas coisas, por elas viverá.'" Gálatas 3:10-12
No artigo
"Introdução da carta aos Gálatas" foi abordado sobre a motivação de
Paulo em escrever esta carta aos Gálatas, e a conexão que há entre essa carta,
o capítulo 15 de Atos dos Apóstolos, e a carta aos Colossenses. (recomendo a
leitura antes de prosseguir: http://fesalvacaoeobras.blogspot.com.br/2015/02/introducao-carta-aos-galatas.html?m=1).
Infelizmente
muitos teólogos utilizam esta carta para negarem a vigência da Torá, e do
próprio povo de Israel como a nação eleita por Deus para sacerdócio entre as
nações.
Neste artigo
estaremos reforçando mais um pouco sobre a questão de que Paulo não está a
combater a Torá, mas está lidando com uma deturpação da Torá: o legalismo.
Inicialmente
é importante salientar que a expressão “obras da lei”, no grego “erga nomou”,
normalmente é entendida como “obediência à Torá”. Esse entendimento, porém, é
um equívoco. Primeiro é importante entendermos que nos tempos de Paulo, a
língua grega não possuía uma palavra que designasse “legalismo”, e quem
sustenta essa afirmação é Cranfield:
“... a língua grega nos dias de Paulo não possuía nenhum grupo de
palavras que correspondesse aos nossos termos ‘legalismo’, ‘legalista’ e
‘legalística’. Isso significa que faltava a Paulo uma terminologia adequada que
pudesse expressar essa distinção fundamental, o que dificultou seriamente a
exposição da perspectiva cristã quanto à lei. Diante disso, deveríamos sempre,
assim que pensamos, estar prontos a considerar a possibilidade de que as
declarações paulinas, que a primeira vista parecem depreciar a lei, foram na verdade
dirigidas não conta a própria lei, entretanto contra uma interpretação errônea
e um uso equivocado da lei, para o que agora possuímos uma terminologia
adequada. Paulo foi pioneiro quanto a essa difícil questão. Se fizermos a
devida correção neste caso, não seremos confundidos ou enganados com tanta
facilidade por certa falta de precisão nas declarações que por vezes
encontraremos.” – C. E. B. Cranfield, The international Critical Commentary,
Romans, 1979, página 853.
Como já foi
dito no artigo mencionado anteriormente, os chamados das “obras da Lei”
condicionava a Salvação à obediência a Torá:
“Então alguns que
tinham descido da Judéia ensinavam assim os irmãos: Se não vos circuncidardes
conforme o uso de Moisés, não podeis salvar-vos.” Atos 15:1
Neste ponto é
importante atentarmos para uma questão muito simples, e que normalmente passa despercebido
de nós quando lemos estes textos. Primeiro que a circuncisão foi instituída por
Adonai para todos os filhos de Abraão, como sinal da aliança entre Deus e os
filhos de Abraão. (Gênesis 17:11).
Para os
filhos de Israel então, a circuncisão ocorre em uma cerimônia bem simples: ao
oitavo dia após o nascimento (ou numa data muito próxima a isso se a criança
apresentar algum problema de saúde que comprometa a circuncisão), normalmente
um rabino ou um judeu reconhecidamente temente a Deus dá ao bebê uma pequena
quantidade de vinho, recita-se uma bênção, realiza a circuncisão (remove-se
cirurgicamente a pele do prepúcio do bebê), e dá-se outra dose de vinho para o
a criança.
Portanto, o
judeu não escolhe ser ou não circuncidado, quem faz essa escolha para ele são
seus pais. A criança judia não assume qualquer compromisso ao ser circuncidado,
não faz nenhum voto, e essa cerimônia visa apenas manter a tradição ordenada
por Deus a Abraão pra que haja distinção entre os filhos de Abraão e os demais
povos.
A circuncisão
que os “das obras da lei” propunham em Atos 15 era dirigida aos gentios que
estavam aderindo à fé, crendo que Jesus é o Filho de Deus, o Messias de Israel.
Assim,
podemos entender que a proposta desses “das obras da lei” era em suma, tornar
judeu a esses gentios, condicionando isto à Salvação.
Ou seja,
segundo o ensino destes “das obras da Lei” a salvação seria única e exclusiva
para os Israelitas, não para os gentios, e se tais gentios que declaravam fé em
Jesus quisessem ser salvos, tinham que se tornarem judeus.
A essa
premissa legalista temos várias refutações principalmente nos profetas, pois
ali diz:
“E aos filhos dos
estrangeiros, que se unirem ao Senhor, para o servirem, e para amarem o nome do
Senhor, e para serem seus servos, todos os que guardarem o sábado, não o
profanando, e os que abraçarem a minha aliança, também os levarei ao meu santo
monte, e os alegrarei na minha casa de oração; os seus holocaustos e os seus
sacrifícios serão aceitos no meu altar; porque a minha casa será chamada casa
de oração para todos os povos.” Isaías 56:6,7
Outro ponto
interessante a ser notado é que a circuncisão de gentios adultos era feita
através de um processo de proselitismo, onde aquele que não era judeu se
comprometia à guardar a Torá, e obedecer todos os mandamentos.
Há uma grande
diferença entre a circuncisão do bebê israelita e do adulto gentio. Ao passo
que a circuncisão do bebê israelita não há nenhum compromisso formal, ou voto,
na circuncisão do gentio adulto há um comprometimento, que é no mínimo um
suicídio espiritual, pois até mesmo o mais devoto judeu sabe que é impossível
guardar toda a Torá.
Não por menos
Paulo exorta a aqueles que se deixam ser circuncidados:
“Eis que eu,
Paulo, vos digo que, se vos deixardes circuncidar, Cristo de nada vos
aproveitará. E de novo protesto a todo o homem, que se deixa circuncidar, que
está obrigado a guardar toda a lei. Separados estais de Cristo, vós os que vos
justificais pela lei; da graça tendes caído.” Gálatas 5:2-4
Perceba
novamente que Paulo direciona sua exortação a aqueles que “se deixa circuncidar”.
Não está falando de bebês israelitas que não fazem esta opção, mas está falando
aos gentios adultos que se dispõe à conversão ao judaísmo, e que faz o voto de
guardar toda a Torá.
Se o gentio
se obriga a guardar toda a Torá, realizando este voto para ser circuncidada,
esta rejeitando plenamente a graça de Deus manifestada na cruz de Cristo.
Lembremos que
Jesus morreu na cruz para ser nossa expiação, para que pela graça tivéssemos perdão
de nossos pecados, e assim, confiando na graça e não em nossas obras, temos a
convicção da redenção de Deus sendo operada em nossos corações.
Outro ponto
importante que através do sacrifício de Jesus Cristo foi inaugurada a Nova
Aliança, que tem por objetivo escrever a Torá em nossos corações, pela operação
do Espírito Santo, e não por nosso próprio mérito ou esforço, conforme
profetizado em Jeremias 31:31-38.
(recomendo leitura do artigo: http://fesalvacaoeobras.blogspot.com.br/2015/05/entendendo-nova-alianca.html)
Sem nos
esquecer que Paulo também nos ensina que, pela obra de Jesus Cristo, nós, que
antes éramos gentios, agora fomos enxertados na comunidade de Israel:
“Que naquele tempo
estáveis sem Cristo, separados da comunidade de Israel, e estranhos às alianças
da promessa, não tendo esperança, e sem Deus no mundo. Mas agora em Cristo
Jesus, vós, que antes estáveis longe, já pelo sangue de Cristo chegastes perto.”
Efésios 2:12,13
Portanto, um
gentio deixar-se circuncidar para ser feito um judeu, com o fim de alcançar a
redenção, é uma postura que anula completamente a obra de Jesus na cruz.
Por isso
Paulo faz uma defesa tão apaixonada nesta carta aos Gálatas, exortando com
tanta veemência aqueles que estavam sendo persuadidos por outro evangelho.
De fato, o
que estava sendo anunciado era uma mensagem que anula completamente a obra do
Messias de Israel.
Paulo nunca
foi contrário à Torá, nem mesmo foi contrário às tradições, à circuncisão ou ao
judaísmo. E isso ele mesmo deixa claro quando, chegando a Roma, conversa com os
principais judeus dali:
"Passados
três dias, ele convocou os principais dentre os judeus; e reunidos eles,
disse-lhes: Varões irmãos, não havendo eu feito nada contra o povo, ou contra
os ritos paternos, vim contudo preso desde Jerusalém, entregue nas mãos dos
romanos;" Atos 28:17
O problema
abordado por Paulo em sua carta aos Gálatas é o uso legítimo da Torá. E isso
pode ser melhor observado no trecho destacado no início deste artigo: Gálatas
3:10-12
Aqui Paulo
faz três citações muito importantes para entendermos a visão correta sobre a
Torá.
Inicialmente
Paulo cita Deuteronômio 27:26, as maldições do monte Ebal. O propósito desta
citação é clara: " É evidente que pela lei ninguém é justificado diante de
Deus".
A Torá revela
nossos pecados, e a maldade que há em nossos corações. A Torá é como um
espelho, que quando olhamos para ela vemos o quanto estamos longe do propósito para
o qual Deus nos criou.
Diante da Lei
os nossos pecados são manifestados, a trazidos à consciência. A Lei foi dada
para evidenciar o pecado e não para justificar o pecador.
Todos nós tropeçamos
em muitas coisas, e o simples tropeçar em um item da Torá já nos faz malditos.
(Recomendo assistir ao vídeo: http://fesalvacaoeobras.blogspot.com.br/2015/11/o-pecado-e-lei.html)
Portanto, a
proposta de justificação pela prática da Torá é anulada pela própria Torá. A
Torá aponta para a necessidade da nossa justificação, mas ela mesma aponta que
essa expiação está fora da Torá, e não na prática da Torá.
Quando
ocorreu o pecado do bezerro de ouro, Moisés, muito indignado com o pecado do
povo, se propôs a ir diante de Adonai fazer expiação pelo pecado do povo:
“E aconteceu que
no dia seguinte Moisés disse ao povo: Vós cometestes grande pecado. Agora,
porém, subirei ao Senhor; porventura farei propiciação por vosso pecado. Assim
tornou-se Moisés ao Senhor, e disse: Ora, este povo cometeu grande pecado
fazendo para si deuses de ouro. Agora, pois, perdoa o seu pecado; se não, risca-me, peço-te, do teu livro, que tens
escrito.” Êxodo 32:30-32
É
interessante notar que Moisés se propôs a receber a condenação no lugar do povo
de Israel. Moisés cometeu um equivoco, e Adonai o corrige imediatamente
dizendo:
“Então disse o
Senhor a Moisés: Aquele que pecar contra mim, a este riscarei do meu livro. Vai,
pois, agora, conduze este povo para onde te tenho dito; eis que o meu anjo irá adiante de ti; porém no
dia da minha visitação visitarei neles o seu pecado” Êxodo 32:33,34
Moisés não
poderia fazer expiação pelo pecado do povo de Israel, ele não estava
qualificado para isso, ele mesmo tinha sua própria necessidade de Graça e
Expiação. Mas a promessa de Adonai era que “meu anjo irá adiante de ti”. No
hebraico, a palavra “anjo” se refere à um representante, um mensageiro
qualificado a representar o Todo Poderoso.
“no dia da minha visitação visitarei neles
o seu pecado” Êxodo 32:34b “Porque dias virão sobre ti, em que os teus inimigos
te cercarão de trincheiras, e te sitiarão, e te estreitarão de todos os lados;
e te derrubarão, a ti e aos teus filhos que dentro de ti estiverem, e não
deixarão em ti pedra sobre pedra, pois
que não conheceste o tempo da tua visitação.” Lucas 19:43,44
Jesus Cristo
é o ANJO enviado por Adonai para fazer a expiação pelos pecados não apenas de
Israel, mas de todo o mundo. E o não reconhecimento deste ANJO anunciado pela
Torá tem conduzido o povo de Israel a séculos de dores.
A Salvação
tanto de Israel como de qualquer gentio está no reconhecimento de Jesus Cristo
como o cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo. É a confiança nEle que nos
justifica diante de Adonai. Ele é o nosso redentor, o nosso remidor, aquele que
tira de nós o opróbrio, causado pela desobediência da Torá.
Mas, se a
Salvação é pela Graça de Deus, pela expiação realizada por Jesus Cristo, qual
então o papel da Torá?
As duas
citações seguintes de Paulo, em Gálatas 3:11-12 nos dará uma resposta
surpreendente. Paulo cita em seguida a profeta Habacuque, que disse:
"Eis o
soberbo! A sua alma não é reta nele; mas o justo pela sua fé viverá."
Habacuque 2:4
O profeta
está nestes versos a descrever o anticristo, e ele começa a fazer uma
contraposição: O soberbo (anticristo), sua alma não é reta nele.
Ou seja, uma
das características marcantes do "homem do pecado" será a sua
desonestidade. Ele não terá retidão, trairá seus acordos, e não terá nele
verdade alguma, "MAS", o profeta mostrará o oposto do tal
"soberbo": o justo, pela sua fé viverá.
No hebraico a
palavra traduzida por "fé" é EMUNAH, que tem um sentido mais profundo
do que simplesmente crer.
EMUNAH é o
conceito de uma convicção interna da verdade que o conduz à obediência.
(Recomendo a leitura do artigo: http://fesalvacaoeobras.blogspot.com.br/2015/07/o-que-e-emunah.html)
Aqui vamos
entender que a simples prática da Torá não pode justificar o homem. Mas a FÉ
pode. Primeiro por que a FÉ é a firme convicção da VERDADE de Deus, da sua
Graça em nos perdoar, enviando seu Filho para nos reconciliar consigo mesmo.
Segundo por que a FÉ é o que torna legítima a obediência à Torá.
Se tivermos
fé na Palavra de Deus, reconhecermos que ela é a Verdade, por essa fé nós somos
impelidos a praticá-la. Neste contexto encaixam-se as palavras de Jesus quando
disse:
"Aquele que
tem os meus mandamentos e os guarda, esse é o que me ama; e aquele que me ama
será amado de meu Pai, e eu o amarei, e me manifestarei a ele." João 14:21
Essa é a
obediência que agrada a Deus: fruto de sua FÉ e de seu AMOR para com Deus.
Deus não se
agrada da obediência mecânica aos mandamentos. Muito pelo contrário, esse tipo
de obediência sempre foi condenado pela bíblia. Como já foi dito no artigo “Introdução
à carta aos Gálatas”, Deus quer que nossa obediência seja fruto de entendimento,
fé e amor à Ele.
Exatamente
por isso Paulo mesmo escreveu:
'Aquele que faz
caso do dia, para o Senhor o faz. E quem come, para o Senhor come, porque dá
graças a Deus; e quem não come, para o Senhor não come, e dá graças a Deus.
(...) a fé que tens, guarda-a contigo mesmo diante de Deus. Bem-aventurado
aquele que não se condena a si mesmo naquilo que aprova.
Mas aquele que tem
dúvidas, se come está condenado, porque o que faz não provém da fé; e tudo o
que não provém da fé é pecado." Romanos 14:6;22-23
Paulo está
aqui condenando o uso legalista da Torá, com o intuito de julgar o irmão, e
reforça que cada um deve andar segundo a fé que alcançou.
Ou seja, se o
irmão ainda não tem o discernimento sobre o shabat, sobre as festas e as leis
dietéticas, não o julgue aquele que guarda essas coisas; e da mesma forma o
irmão que compreende e guarda essas coisas não deve ser julgar e condenar
aquele que não guarda, mas cada um deve andar na medida de fé que alcançou, por
que se alguém não anda segundo a fé está em pecado.
Além do mais,
a síntese da Torá esta em “amar ao próximo como a si mesmo” e isso por si
extingue qualquer prejulgamento ou pré-conceito com relação a coisas
secundárias.
Importante
salientar que o "não comer carne" a que Paulo se refere não é à Torá,
pois a Torá prescreve os tipos de carne que são adequados para a alimentação.
Quem proibia o consumo de carne era o estoicismo.
Como muitos
dos gentios que vinham à fé eram estoicos, ou melhor, estavam abandonando o
estoicismo, alguns deles ainda tinham dúvidas se era lícito ou não comer
carnes.
Quando Paulo
diz:
“Porque um crê que
de tudo se pode comer, e outro, que é fraco, come legumes.” Romanos 14:2
Paulo está se
referindo justamente a estes irmãos recém-convertidos, vindos do estoicismo, e
que ainda estavam “fracos na fé”, ou, como Paulo mesmo diz no verso 1 “enfermos
na fé”.
Perceba como
Paulo procura de todas as formas incluir os “fracos na fé” no corpo, não
impondo sobre eles práticas ou ritos, não os obrigando à obediência, mas
exortando a andarem em santidade.
Essa postura
de Paulo é totalmente alinhada à resolução do concílio apostólico de Atos 15:
“Por isso julgo
que não se deve perturbar aqueles, dentre os gentios, que se convertem a Deus.
Mas escrever-lhes que se abstenham das contaminações dos ídolos, da fornicação,
do que é sufocado e do sangue. Porque Moisés, desde os tempos antigos, tem em
cada cidade quem o pregue, e cada sábado é lido nas sinagogas.” Atos 15:19-21
(Recomendo a leitura do artigo: http://fesalvacaoeobras.blogspot.com/2014/08/o-gentio-e-lei-doutrina-apostolica-para.html)
O que nós
percebemos com o concílio de Jerusalém é a imposição apenas de quatro preceitos
básicos, mas que esses preceitos não são o máximo para o gentio, e sim o mínimo
exigido para que o gentio fosse admitido ao corpo da igreja.
No entanto o
demais da Torá (não exigido) deveria ser observado conforme o aprendizado,
discernimento, e fé. Por isso os apóstolos concluem dizendo: “Porque Moisés,
desde os tempos antigos, tem em cada cidade quem o pregue, e cada sábado é lido
nas sinagogas”.
Voltando ao
texto de Gálatas, concluímos com base na segunda citação de Paulo que a
justificação é fruto da fé, que conduz o servo de Deus à obediência não pela
imposição, mas pelo amor. À medida que o servo temente conhece a Palavra de
Deus, sua fé o impele a uma obediência legítima.
Mas se a
salvação é pela Graça de Deus, e a obediência aceitável à Deus é aquela que é
regida pelo entendimento e fé, porquê o servo de Deus teria que estudar a Torá,
ou, porquê deveria conhecer os mandamentos de Adonai?
A resposta a
essa legitima indagação está no verso 12 de Galatas 3, onde Paulo faz outra
citação extremamente importante para entendermos melhor o papel da Torá. Ele
cita agora o profeta Ezequiel, que registrou as seguintes palavras do Senhor:
"E dei-lhes
os meus estatutos, e lhes mostrei as minhas ordenanças, pelas quais o homem
viverá, se as cumprir. Demais lhes dei também os meus sábados, para servirem de
sinal entre mim e eles; a fim de que soubessem que eu sou o Senhor que os
santifica." Ezequiel 20:11-12
Adonai está
testificando que a Torá possui estatutos e ordenanças que, se o homem se dispuser
a cumprir, encontrará por elas vida. E mais, a Torá apresenta os sábados e
festas que servem como sinal de que Adonai santifica seu povo.
Devemos
entender que ao obedecer aos mandamentos da Torá, com entendimento e fé, temos
uma real qualidade de vida.
Quando
honramos nossos pais, quando evitamos a cobiça, quando fugimos do adultério, o
resultado será em uma vida em que irá imperar o bom relacionamento familiar, e
a boa consciência.
A obediência
aos mandamentos não pode ser entendida como um “favor que fazemos a Adonai”,
mas sim a adequação a um estilo de vida que resultará em melhor qualidade para
nós mesmos.
Imagine por
um instante uma sociedade em que todos obedecessem à Torá, seria uma sociedade
onde não haveria furtos, violência, prostituição, onde todos seriam satisfeitos
com o fruto de seus trabalhos, uma sociedade onde todos tratariam com justiça uns
aos outros, onde os pobres, viúvas e órfãos não ficariam desamparados.
Viver numa
sociedade assim seria bom para quem? Para aqueles que vivessem em tal
sociedade.
Portanto a
Torá foi dada para que o homem pudesse ter qualidade de vida. Isso não pode ser
negligenciado.
Por isso
mesmo a revelação da Torá é manifestação da Graça de Adonai em nosso favor,
pois Ele nos deu o manual para vivermos bem e em Paz.
Mas a Torá
não nos dá apenas mandamentos para vivermos com qualidade de vida, ela nos
apresenta sinais, que nos leva ao conhecimento da Pessoa e da Obra de Adonai em
nossas vidas.
Na Torá há
uma serie de estatutos e cerimoniais que nos levam a uma melhor compreensão da
Obra de Deus em nós. Estes estatutos nos apresentam a redenção que temos em
Deus, e a obra de Jesus, tanto a realizada na cruz, como a que será realizada
na sua vinda.
São os
sábados e as festas que Adonai estabeleceu como sinal de que Ele é quem nos
santifica.
Paulo afirma
isso quando diz:
“Portanto, ninguém
vos julgue pelo comer, ou pelo beber, ou por causa dos dias de festa, ou da lua
nova, ou dos sábados, que são sombras das coisas futuras, mas o corpo é de
Cristo.” Colossenses 2:16,17
(Recomendo a leitura do artigo: http://fesalvacaoeobras.blogspot.com.br/2014/12/os-ritos-cerimoniais-da-lei.html)
Perceba que
Paulo não está a criticar ou desmotivar os Colossenses à guarda do sábado, ou à
guarda das festas. Pelo contrário, Paulo está a colocar essas coisas no seu
devido lugar. Tanto o Sábado como as festas judaicas apontam para Cristo, e só
tem seu valor devidamente estabelecido quando convergido para a pessoa de
Jesus.
Ou seja, ao
observar o sábado e as festas, o cristão deveria ter em mente que tanto as
festas como o sábado são sinais, que devem ser memoriais, tanto daquilo que
Jesus fez na cruz como daquilo que Jesus fará ao voltar.
Perceba
também que em nenhum momento Paulo obriga os Colossenses a guardar estas
coisas, muito menos os proíbe. Fato é que Paulo em alguns momentos incentiva os
cristãos a guardarem as festas, ele mesmo diz aos Coríntios numa alusão clara à
festa de Matzotz:
“Alimpai-vos,
pois, do fermento velho, para que sejais uma nova massa, assim como estais sem
fermento. Porque Cristo, nossa páscoa, foi sacrificado por nós” 1 Coríntios 5:7
No entanto
devemos nos lembrar que a palavra Torá significa "instrução", e é
assim que devemos olhar para ela, como a tutora que nos conduz ao conhecimento
do Messias. A Torá foi dada para que pudéssemos ter um melhor nível de
relacionamento para com Deus e para com o próximo.
Por isso
Paulo advertiu a Timóteo dizendo:
"Sabemos,
porém, que a lei é boa, se alguém dela usar legitimamente," 1 Timóteo 1:8
(Recomendo a leitura do artigo: http://fesalvacaoeobras.blogspot.com/2016/02/qual-importancia-da-lei-para-salvacao.html)
Portanto
concluímos que, em sua carta aos Gálatas, Paulo está a destruir um conceito
errôneo sobre a Torá, condenando o legalismo e a imposição de dogmas.
Infelizmente
na história da Igreja, tanto da igreja primitiva, católica, ou do movimento
reformado, vário conjuntos de dogmas e credos foram criados e impostos aos
crentes.
Inúmeros
cristãos foram mortos por discordar de algum dogma ou concílio. A orientação
paulina foi totalmente contrária a este comportamento. Nem Paulo, nem os
apóstolos, trataram de impor dogmas, mas se preocuparam a doutrinar (ensinar)
os novos na fé, ensinando com base na Torá a conhecerem a Adonai.
Não podemos
nos sujeitar ao legalismo, seja ele qual for. Devemos sempre procurar a
“liberdade que temos em Cristo” para obedecer à Lei de Deus por meio de
entendimento e fé, e não por meio de imposições.
E como servos
de Deus, devemos estar sempre preocupados com o “aprender da Palavra de Deus”
para aplicar em nossas vidas aquilo que dEle temos recebido, sem julgamentos ou
preconceitos contra nossos irmãos.
Em suma,
devemos ser honestos para com aquilo que de Deus temos recebido. Não presos à
dogmas ou preceitos, mas buscando o verdadeiro conhecimento que vem do alto.
Que o Senhor
possa nos conceder o entendimento de sua Torá, e nos conduza na Verdade, para
que vivamos sempre pela fé, praticando boas obras, em amor a nosso Messias.
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