"Pois diz a Moisés: Compadecer-me-ei de quem me compadecer, e terei misericórdia de quem eu tiver misericórdia." Romanos 9:15.
Paulo cita aqui uma passagem muito importante da Torá, que acontece em um momento emblemático da história de Israel.
Israel havia acabado de fazer uma aliança com o Eterno, para ser sua possessão, e a nação sacerdotal diante de toda a terra.
Porém, ao verem que Moisés demorava retornar do monte Sinai, e temendo que ele tivesse morrido diante da manifestação da Glória do Eterno, os israelitas decidiram fazer um bezerro de ouro, e terem-no como seu deus.
Foi um pecado gravíssimo que o povo de Israel cometeu, e uma violação da aliança recém estabelecida.
Após Moisés descer do Sinai, e matar todos os culpados por tamanho desatino, ele busca novamente o Eterno em oração, e intercede pelo seu povo no capítulo 32 de Êxodo, chegando a propor dar sua própria vida para salvação de Israel.
"Mas agora, eu te rogo, perdoa-lhes o pecado; se não, risca-me do teu livro que escreveste". Êxodo 32:32.
A resposta do Eterno é simples e direta:
"Respondeu o Senhor a Moisés: Riscarei do meu livro todo aquele que pecar contra mim." Êxodo 32:33.
Depois, no capítulo 33, Moisés continua intercedendo por Israel, clamando para que o Eterno subisse juntamente com seu povo para a terra prometida. Ao alcançar o favor do Eterno, Moisés faz um pedido inusitado:
"Então ele disse: Rogo-te que me mostres a tua glória." Êxodo 33:18.
Moisés já havia passado quarenta dias e quarenta noites no monte Sinai, dentro da nuvem espessa, recebendo diretamente do Eterno a Torá. Acabara também de receber o favor do Eterno, e a promessa de que Ele próprio estaria com o povo até a conquista da terra de Canaã.
Mas Moisés queria mais, ele queria ver a Glória do Eterno. Ao que o Eterno lhe responde:
"Porém ele disse: Eu farei passar toda a minha bondade por diante de ti, e proclamarei o nome do Senhor diante de ti; e terei misericórdia de quem eu tiver misericórdia, e me compadecerei de quem eu me compadecer." Êxodo 33:19
Moisés pediu para ver a Glória (Kavod) do Eterno, e o Eterno respondeu primeiro que faria passar por ele toda a sua bondade ('Kol-Tuvi' literalmente 'tudo de bom'). Depois proclamaria o nome do Eterno, e por fim a expressão citada por Paulo: "terei misericórdia de quem eu tiver misericórdia, e me compadecerei de quem eu me compadecer".
Porém, o contexto não para aqui. Conforme anunciado, o Eterno se manifestou a Moisés no capítulo 34, onde encontramos o seguinte registro:
"Passando, pois, o Senhor perante ele, clamou: O Senhor, o Senhor Deus, misericordioso e piedoso, tardio em irar-se e grande em beneficência e verdade; que guarda a beneficência em milhares; que perdoa a iniqüidade, e a transgressão e o pecado; que ao culpado não tem por inocente; que visita a iniqüidade dos pais sobre os filhos e sobre os filhos dos filhos até a terceira e quarta geração." Êxodo 34:6,7
Este texto é um dos mais profundos de toda a Torá.
Aqui o Eterno manifesta-se a Moisés como o Deus misericordioso, que perdoa a iniqüidade, a transgressão e o pecado; ao mesmo tempo em que não tem o culpado por inocente, e que visita a iniqüidade dos pais sobre os filhos até a terceira e quarta geração.
O texto explicita que o julgamento de Deus é final e completo. Mas que primeiro ele é misericordioso e piedoso, tardando sua ira e oferecendo sua Beneficência (Graça) e Verdade. Yeshua endossa essas palavras ao dizer que devemos ser como nosso pai:
"Eu, porém, vos digo: Amai a vossos inimigos, bendizei os que vos maldizem, fazei bem aos que vos odeiam, e orai pelos que vos maltratam e vos perseguem; para que sejais filhos do vosso Pai que está nos céus; porque faz que o seu sol se levante sobre maus e bons, e a chuva desça sobre justos e injustos." Mateus 5:44,45
A beneficência do Eterno é explicitada nas palavras de Yeshua. Tanto sobre bons como sobre maus, o Eterno faz brilhar o sol todos os dias, e cair a chuva; dá-nos o sustento todos os dias, e livra-nos de vários males, não obstante a maioria de nós sequer atentarmos para sua Vontade.
Mas ao mesmo tempo em que ele manifesta sua beneficência, tardando sua ira, provocada pelos nossos pecados, Ele revela-nos a sua Verdade, como Paulo também ensinou:
"Pois desde a criação do mundo os atributos invisíveis de Deus, seu eterno poder e sua natureza divina, têm sido vistos claramente, sendo compreendidos por meio das coisas criadas, de forma que tais homens são indesculpáveis" Romanos 1:20.
Apesar de ser Beneficente para conosco, por vezes o Eterno permite-nos passar por situações onde somos alertados sobre nossos pecados, sobre a efemeridade de nossa vida, sobre a necessidade de refletirmos a respeito da eternidade e do nosso relacionamento com Deus.
Em havendo arrependimento de nossa vã maneira de viver, sujeitando-nos à sua Torá, o Eterno faz uma grande promessa, apresentando-se como o Deus "que perdoa a iniqüidade (avon), e a transgressão (pesha) e o pecado (hata)".
Hata é o pecado inconsciente. Aquele pecado que muitas vezes cometemos sem ter consciência, e sem ter a intenção de ofender a Deus.
Pesha é o pecado consciente, muitas vezes premeditado, e que afronta a autoridade do Eterno.
Avon já é o pecado contumaz, aquele pecado praticado por pura rebelião contra o Eterno.
Em outras palavras, Deus atesta que ele tem poder, e disposição, para perdoar todos os tipos de pecados, desde os mais graves até os mais comuns.
Não há limites para o perdão do Eterno, desde que o homem dê a devida atenção à sua Beneficência e à sua Verdade, e volte à prática da Lei, como João nos ensina:
"Se confessarmos os nossos pecados, ele é fiel e justo para perdoar os nossos pecados e nos purificar de toda injustiça." 1 João 1:9.
Porém, se rejeitarmos sua Beneficência e sua Verdade, o mesmo Deus perdoador é aquele quem também não terá o culpado por inocente, e visitará a iniqüidade dos pais nos filhos, até a terceira e quarta geração.
Por isso o apóstolo Paulo adverte:
"Portanto, considere a bondade e a severidade de Deus: severidade para com aqueles que caíram, mas bondade para com você, desde que permaneça na bondade dele. De outra forma, você também será cortado." Romanos 11:22.
Mas, porque o Eterno "visita" a iniqüidade dos pais nos filhos? Há um aspecto importante a ser considerado aqui.
Muitos pecados (praticas pecaminosas) são transmitidos de pais para filhos através do exemplo e da tradição. Muitos filhos enveredam na bebida por exemplos dos pais. Muitos filhos se tornam idólatras devido ao ensino e tradição recebida dos pais.
Assim, há a necessidade do Eterno 'visitar' esta 'iniqüidade' para que, sendo conhecidas as conseqüências do pecado (conhecimento da verdade), haja oportunidade de arrependimento e perdão.
Podemos concluir então que o Eterno tem predestinado sobre nossas vidas 'visitações' onde somos confrontados com as conseqüências de nossos pecados. E este é o momento em que temos a oportunidade de decidir entre permanecer na prática do pecado, ou, em arrependimento, voltarmos para Deus.
Moisés pediu para ver a Glória (Kavod) do Eterno, e o Eterno mostrou-lhe sua Beneficência (Graça) e Verdade.
Glória, Kavod em hebraico, significa Peso, e está ligado à Soberania e Poder do Eterno. Sua Soberania é manifestada através da sua Graça e Verdade, que nos dá a oportunidade de arrependimento, diante da certeza de que o Juiz de toda a terra julgará a todos com retidão.
Por isso que o evangelista João é tão enfático ao escrever sobre Yeshua:
"Porque a lei foi dada por Moisés; a graça e a verdade vieram por Jesus Cristo." João 1:17
Yeshua é o Messias, por quem é manifestada a Graça do Eterno, através de seu sacrifício na cruz, e por meio de quem também a Justiça de Deus será estabelecida em toda a terra. Por isso: "Hoje, se ouvirdes a sua voz, não endureçais os vossos corações". Hebreus 4:7b
O dia para o arrependimento chama-se Hoje. O Eterno nos abençoe!
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