Levíticos, e o sacrifício de Yeshua.

Um ponto que defendemos em nossos estudos é com relação à relevância da Torá para os discípulos de Yeshua. Este ponto visa contrapor-se à idéia dominante nos meios cristãos de que a Torá, ou parte dela, teria sido abolida por Yeshua (Jesus) na cruz.

Esta visão distorcida, contraria diretamente as palavras do Messias que disse:

"Não pensem que vim abolir a Lei ou os Profetas; não vim abolir, mas cumprir. Digo-lhes a verdade: Enquanto existirem céus e terra, de forma alguma desaparecerá da Lei a menor letra ou o menor traço, até que tudo se cumpra." Mateus 5:17,18.

No original grego, a palavra usada para "cumprir" é "plerusai", que não significa "dar fim", mas trazer completude, ou fazer completo.

Assim, cremos que Yeshua não veio remover a Torá para lançar um novo ensino, mas que Yeshua, com seus ensinos, completou e clarificou os ensinos da Torá.

Sendo assim, toda a Torá é válida, e apta para os discípulos de Yeshua obterem sabedoria a respeito de como viver de forma plena a sua fé em Deus. Afinal, este é o objetivo da Torá:

"Vocês devem obedecer-lhes e cumpri-los, pois assim os outros povos verão a sabedoria e o discernimento de vocês. Quando eles ouvirem todos estes decretos dirão: De fato esta grande nação é um povo sábio e inteligente". Deuteronômio 4:6.

E Paulo fala a seu discípulo Timóteo:

"Porque desde criança você conhece as sagradas letras, que são capazes de torná-lo sábio para a salvação mediante a fé em Cristo Jesus." 2 Timóteo 3:15.

Mas, um dos pontos que nossos críticos levantam é com relação aos sacrifícios da Torá. Se a Torá ainda é válida para os discípulos de Yeshua, deveríamos então sacrificar animais ao nosso Deus?

E este ponto nos leva à parashá desta semana, que é a primeira porção do livro de Levíticos. (Lev 1:1-6:7).

Entendemos que a Torá é válida para os nossos dias, e por isso mesmo ela deve ser estudada e compreendida dentro de seu contexto original, para que venhamos a entender corretamente seus ensinos, e aplicar corretamente suas práticas.

A Torá apresenta mandamentos relacionados ao culto que Israel deveria prestar ao Altíssimo. Este culto envolvia o Tabernáculo (e futuramente o Templo), o Sacerdócio (descendentes de Arão), e as ofertas, sacrificiais ou não.

Portanto, os sacrifícios eram um dos aspectos relacionados ao culto ao Eterno, que era ministrado pelos sacerdotes da linhagem de Arão, e aconteciam exclusivamente no Templo em Jerusalém. Desde o ano 70 d.C. o Templo está destruído, e é por este motivo que atualmente nem mesmo os judeus oferecem sacrifícios.

Sendo os sacrifícios apenas um dos aspectos do culto, que só podem ser ministrados no Templo que não existe mais (ainda, visto que as profecias apontam para sua reconstrução), qual seria a relevância deles para nós?

Os sacrifícios atendiam a dois requerimentos básicos: Primeiro, era uma forma de agradecer a Deus, onde temos as ofertas voluntárias ou os sacrifícios pacíficos. Segundo, era uma forma de alcançar expiação pelos pecados.

As ofertas voluntárias eram uma forma de o hebreu agradecer a Deus, cultuá-lo, e desta forma dar sustento aos sacerdotes. Afinal, a carne do sacrifício era alimento para o sacerdote. Este aspecto nós praticamos atualmente através de nossos dízimos e contribuições.

Nos sacrifícios para expiação dos pecados, todo o animal era queimado, não se fazia proveito de nada dele.

Temos bem firmes em nossa fé que Yeshua (Jesus) apresentou-se como sacrifício para expiação de nossos pecados. Seu sangue foi derramado não no Templo de Jerusalém, mas apresentado no Tabernáculo celestial.

Ele não oficiou seu sacrifício como um sacerdote da ordem araônica, mas como o profeta disse, segundo a ordem de Melquisedeque. Por isso o escritor aos Hebreus ensina:

"Quando Cristo veio como sumo sacerdote dos benefícios agora presentes, ele adentrou o maior e mais perfeito Tabernáculo, não feito pelo homem, isto é, não pertencente a esta criação. Não por meio de sangue de bodes e novilhos, mas pelo seu próprio sangue, ele entrou no Santo dos Santos, uma vez por todas, e obteve eterna redenção." Hebreus 9:11,12.

Assim, o sacrifício de Yeshua é superior aos sacrifícios descritos na Torá como parte do culto no Tabernáculo.

A Parashá ainda fala a respeito de vários pecados cometidos na "ignorância", e que ao tomar consciência, o transgressor tornava-se culpado, havendo a necessidade de restituir a sua falta, e oferecer os sacrifícios referentes ao pecado para obter expiação.

Nós também cometemos pecados, muitas vezes por ignorância, e ao tomar consciência de nossos erros sentimo-nos culpados, porém, o sangue de Yeshua não apenas perdoa nossos pecados, como também transforma nossas consciências, por meio da ação do seu Espírito em nós, aperfeiçoando-nos para vencer tais pecados, por isso o escritor aos Hebreus completa:

"quanto mais, então, o sangue de Cristo, que pelo Espírito eterno se ofereceu de forma imaculada a Deus, purificará a nossa consciência de atos que levam à morte, de modo que sirvamos ao Deus vivo!" Hebreus 9:14.

Assim, pela Nova Aliança inaugurada pelo Messias na Cruz, temos acesso a um sacrifício maior, perfeito, e com poder de não apenas perdoar, mas transformar nossas consciências, escrevendo a sua Torá no nosso coração e na nossa mente.

Portanto, é impensável que alguém que crê em Yeshua, sinta qualquer necessidade de oferecer sacrifícios para expiação de pecados no Templo, se isto fosse de alguma forma possível.

Perceba que, embora o sacrifício de Yeshua seja superior aos sacrifícios apresentados na Torá, ele não desqualifica estes, mas seu sacrifício é feito tendo em base os princípios fundamentas dos sacrifícios da primeira aliança, são eles: a consciência, a culpa, a confissão, o sangue e a expiação.

Porém, um ponto extremamente relevante na Torá, nesta parashá, e também ensinado por Yeshua, e que muitas vezes é ignorado pelos crentes, é o princípio da restituição.

"Se alguém pecar, cometendo uma ofensa contra o Senhor, enganando o seu próximo no que diz respeito a algo que lhe foi confiado ou deixado como penhor ou roubado, ou se lhe extorquir algo, ou se achar algum bem perdido e mentir a respeito disso, ou se jurar falsamente a respeito de qualquer coisa, cometendo pecado; quando assim pecar, tornando-se por isso culpado, terá que devolver o que roubou ou tomou mediante extorsão, ou o que lhe foi confiado, ou os bens perdidos que achou, ou qualquer coisa sobre a qual tenha jurado falsamente. Fará restituição plena, acrescentará a isso um quinto do valor e dará tudo ao proprietário no dia em que apresentar a sua oferta pela culpa." Levítico 6:2-5.

Muitos crentes hoje cometem pecados que trazem prejuízos a outrem, e acreditam que apenas confessar seus pecados a Deus e clamar pelo perdão no sangue de Yeshua é suficiente para resolver todos os problemas, e se esquecem das conseqüências de seus atos diante daqueles contra quem pecaram.

As palavras de Yeshua estão em total concordância com o que ensina a Torá:

"Portanto, se você estiver apresentando sua oferta diante do altar e ali se lembrar de que seu irmão tem algo contra você, deixe sua oferta ali, diante do altar, e vá primeiro reconciliar-se com seu irmão; depois volte e apresente sua oferta. Entre em acordo depressa com seu adversário que pretende levá-lo ao tribunal. Faça isso enquanto ainda estiver com ele a caminho, pois, caso contrário, ele poderá entregá-lo ao juiz, e o juiz ao guarda, e você poderá ser jogado na prisão. Eu lhe garanto que você não sairá de lá enquanto não pagar o último centavo". Mateus 5:23-26.

Devemos sim clamar a Deus pelo perdão, crer na suficiência do sacrifício de Yeshua para nosso perdão, mas também devemos restituir a nossa falta a quem ofendemos com nossos pecados. Isto é aplicar a Torá do Eterno em nossas vidas.

O Eterno nos abençoe!

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