A Pessach e a Santidade.

No meio cristão é muito comum que as pessoas definam SANTIDADE como seguir uma conduta moral. Esta definição, apesar de não completamente equivocada, está bem aquém do que realmente é a expressão de Santidade na Torá.

A palavra "Kadosh" (Santo) em hebraico significa "separado". Quando a Torá diz que o Eterno é Santo, está dizendo que não há nenhum outro que possa ser comparado a Ele. Deus é separado de toda a sua criação tanto em seus valores (aspectos morais) como em seu poder e existência.

Ser santo, como Ele é Santo, é uma exigência constante que a Torá faz para aqueles que fazem parte de seu povo:

"Porque eu sou o Senhor vosso Deus; portanto vós vos santificareis, e sereis santos, porque eu sou santo" Levítico 11:44a

E o Novo Testamento corrobora com isso quando diz:

"Segui a paz com todos, e a santificação, sem a qual ninguém verá o Senhor" Hebreus 12:14.

O texto que lemos no segundo Shabat de Pessach é Êxodo 33:12-34:26. Este texto é especialmente importante, visto que havia acabado de acontecer o pecado do bezerro de ouro.

Moisés intercede pelo povo de Israel, e, no verso 16 expõe a maneira como Israel seria identificado como povo Santo:

"Como, pois, se saberá agora que tenho achado graça aos teus olhos, eu e o teu povo? Acaso não é por andares tu conosco, de modo a sermos separados, eu e o teu povo, de todos os povos que há sobre a face da terra?" Êxodo 33:16

O propósito da santificação é que o santificado seja separado dos demais povos da terra em seus valores, cultura, costumes e práticas. 

E, segundo as palavras de Moisés, a presença do Eterno em meio a Israel é o que possibilitaria a santificação de Israel e a certeza de que Israel achou Graça (perdão) aos olhos do Eterno.

Lembremos que Israel havia acabado de cometer um grave pecado (bezerro de ouro), e havia a necessidade de ter-se certeza de que Israel estava perdoado. Afinal, Israel enfrentaria nações poderosas, e sem o auxílio do Eterno eles não conseguiriam vencê-los. 
Como saber se Israel fora de fato perdoado, e que a ira do Eterno não estava sobre seu povo, e que conquistariam as terras de seus inimigos? Não seria com a presença do Eterno no meio deles, fazendo deles um povo distinto de todos os demais?

É a presença do Espírito Santo em nosso meio que nos santifica, e nos dá a garantia de que achamos Graça aos olhos do Eterno, e fomos perdoados, sendo agora um povo separado para Ele.

"Em quem também vós estais, depois que ouvistes a palavra da verdade, o evangelho da vossa salvação; e, tendo nele também crido, fostes selados com o Espírito Santo da promessa; o qual é o penhor (garantia) da nossa herança, para redenção da possessão adquirida, para louvor da sua glória." Efésios 1:13,14.

Mas, o mais interessante é o que acontece ao final de toda essa narrativa. O Eterno responde a Moisés no capítulo seguinte:

"Então disse: Eis que eu faço uma aliança; farei diante de todo o teu povo maravilhas que nunca foram feitas em toda a terra, nem em nação alguma; de maneira que todo este povo, em cujo meio tu estás, veja a obra do Senhor; porque coisa terrível é o que faço contigo.
...
A festa dos pães ázimos guardarás; sete dias comerás pães ázimos, como te tenho ordenado, ao tempo apontado do mês de Aviv; porque no mês de Aviv saíste do Egito.
...
Seis dias trabalharás, mas ao sétimo dia descansarás: na aradura e na sega descansarás.
Também guardarás a festa das semanas, que é a festa das primícias da sega do trigo, e a festa da colheita no fim do ano.
Três vezes ao ano todos os homens aparecerão perante o Senhor DEUS, o Deus de Israel; porque eu lançarei fora as nações de diante de ti, e alargarei o teu território; ninguém cobiçará a tua terra, quando subires para aparecer três vezes no ano diante do Senhor teu Deus.
Não sacrificarás o sangue do meu sacrifício com pão levedado, nem o sacrifício da festa da páscoa ficará da noite para a manhã.
As primícias dos primeiros frutos da tua terra trarás à casa do Senhor teu Deus; não cozerás o cabrito no leite de sua mãe.
Disse mais o Senhor a Moisés: Escreve estas palavras; porque conforme ao teor destas palavras tenho feito aliança contigo e com Israel." Êxodo 34:10;18;20-27

Neste trecho o Eterno reafirma sua aliança com Israel, e adverte Israel a guardar vários mandamentos, dentre eles as festas designadas na Torá: Shabat, Pessach, Bikurim, Matzot e Shavuot.

Em um contexto mais amplo, o que aprendemos aqui é a relação que há entre santidade e as celebrações da Torá.

As celebrações da Torá têm o objetivo de criar em Israel uma cultura distinta, onde a Palavra do Eterno, suas promessas, e seus feitos são o centro.

As festas não são meros mandamentos, mas são meios pelos quais o Eterno ordenou que a memória dos seus feitos e de suas promessas fossem transmitidas através das gerações. As festas da Torá designam a Israel uma identidade separada das demais nações, e isto está intimamente ligado ao conceito de Santidade que a Torá estabelece.

Santidade não é apenas o caráter moral que devemos estar atentos, visto que a Torá estabelece sim a moral do Eterno que deve ser copiada por nós. Mas ela também faz referência à identidade social que o Eterno deu para que seus feitos e suas promessas fossem rememoradas às gerações vindouras.

Como discípulos de Yeshua, nós não podemos estar alheios a isto. Afinal, segundo as palavras de Paulo, em Yeshua somos aproximados de Israel, e feitos participantes das suas promessas.

Ademais, todas as celebrações da Torá ganham novos contornos em Yeshua. 

Pessach, Bikurim, Matzot, Shavuot, Yom Terua, Yom Kippur, Sucot e Shabat, todas essas festas falam poderosamente à nossa fé em Yeshua como o Messias de Israel, que foi sacrificado em Pessach, que ressuscitou em Bikurim, santificou os seus em Matzot, derramou seu Espírito em Shavuot, retornará em Yom Terua, julgará as nações em Yom Kippur, e casará com sua noiva em Sucot estabelecendo um Shabat milenar.

Se cremos em Yeshua como nosso Salvador, o Messias, então as festas comunicam coisas importantes à nossa fé, e falam de nossa identidade como discípulos de Yeshua. 

Portanto, as festas conferem a nós aspectos relevantes da Santidade estabelecida pela Torá.

Não estou com isso afirmando que apenas a celebração das festas confere santidade ao povo de Deus, mas que elas fazem parte importante, e que por séculos têm sido desprezadas pelo cristianismo.

Mas vivemos dias importantes, dias de restauração. Vivemos dias em que essas coisas têm sido novamente trazidas à nossa mente, e temos tido a oportunidade de restaurar aspectos antes esquecidos de nossa fé.

Que possamos olhar com outros olhos para as festas estabelecidas pelo Eterno na Torá, e possamos ser engrandecidos pelo Eterno através das práticas que Ele mesmo designou a seu povo.

O Eterno nos abençoe!

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