Primeira carta de João

Existe uma constante polêmica nos meios cristãos. A polêmica trata-se da questão da fé e das obras. Há sempre um grupo que vai tentar diminuir o valor das obras e creditar mais peso à fé, enquanto outro grupo irá sempre diminuir o valor da fé e creditar mais peso às obras.

Mas o que parece ser um paradoxo, na verdade é o reflexo da falta de compreensão mais assertiva a respeito da fé e das obras.

Já falamos em vários outros estudos sobre a relação da fé e das obras, mas quero hoje falar sobre as palavras de João a este respeito. Em sua primeira carta, o apóstolo João faz afirmações importantes e profundas para que possamos entender realmente o peso da fé e das obras da vida do discípulo de Yeshua (Jesus).

Em seu primeiro capítulo ele vai salientar que a fé no Messias nos purifica dos pecados. Mas esta fé não seria apenas uma afirmação, ou uma expectativa, mas sim um caminhar. João diz:

"E esta é a mensagem que dele ouvimos, e vos anunciamos: que Deus é luz, e não há nele trevas nenhumas. Se dissermos que temos comunhão com ele, e andarmos em trevas, mentimos, e não praticamos a verdade. Mas, se andarmos na luz, como ele na luz está, temos comunhão uns com os outros, e o sangue de Jesus Cristo, seu Filho, nos purifica de todo o pecado.
Se dissermos que não temos pecado, enganamo-nos a nós mesmos, e não há verdade em nós.
Se confessarmos os nossos pecados, ele é fiel e justo para nos perdoar os pecados, e nos purificar de toda a injustiça." 1 João 1:5-9

Assim, a fé está em acreditar na pregação dos apóstolos de que Deus é Luz, reconhecer que somos pecadores, e procurarmos andar na luz. Então, como conseqüência desta fé, o Sangue de Yeshua nos purifica de todos os pecados.

No capítulo 2 ele vai aprofundar mais ainda nas conseqüências desta fé e dizer:

"E nisto sabemos que o conhecemos: se guardarmos os seus mandamentos.
Aquele que diz: Eu conheço-o, e não guarda os seus mandamentos, é mentiroso, e nele não está a verdade.
Mas qualquer que guarda a sua palavra, o amor de Deus está nele verdadeiramente aperfeiçoado; nisto conhecemos que estamos nele. Aquele que diz que está nele, também deve andar como ele andou." 1 João 2:3-6

João concatena a fé com a observância dos mandamentos do Eterno, e mais, apresenta que o amor de Deus só está verdadeiramente aperfeiçoado naquele que se dispõe a guardar os mandamentos.

Mas aqui alguns podem dizer que estes mandamentos na verdade não são os mandamentos da Torá, mas sim mandamentos do Novo Testamento. Para impedir este tipo de ilação, João complementa logo em seguida:

"Irmãos, não vos escrevo mandamento novo, mas o mandamento antigo, que desde o princípio tivestes. Este mandamento antigo é a palavra que desde o princípio ouvistes." 1 João 2:7

João faz questão de frisar que o mandamento que ele se refere é o mandamento que desde o princípio temos ouvido. Ou seja, ele está referindo-se à Torá.

Porém, João vai fazer um comentário muito interessante a respeito desta Torá. Ele vai dizer que devemos olhar para a Torá com um olhar renovado. Não com o olhar que os religiosos e legalistas de seu tempo olhavam, mas com o olhar que Yeshua os ensinou a ter:

"Outra vez vos escrevo um mandamento novo, que é verdadeiro nele e em vós; porque vão passando as trevas, e já a verdadeira luz ilumina. Aquele que diz que está na luz, e odeia a seu irmão, até agora está em trevas.
Aquele que ama a seu irmão está na luz, e nele não há escândalo." 1 João 2:8-10

Assim, a verdadeira obediência aos mandamentos da Torá é aquela que é pautada sobre tudo no amor ao próximo, como ensinou Yeshua:

"E Jesus disse-lhe: Amarás o Senhor teu Deus de todo o teu coração, e de toda a tua alma, e de todo o teu pensamento. Este é o primeiro e grande mandamento. E o segundo, semelhante a este, é: Amarás o teu próximo como a ti mesmo. Destes dois mandamentos dependem toda a lei e os profetas." Mateus 22:37-40.

Portanto, segundo as palavras de João, a conseqüência natural da fé é a obediência aos mandamentos do Eterno, revelados através da sua Torá, lidos e praticados sob a ótica do ensino de Yeshua, ou seja, visando sobretudo o amor a Deus e ao próximo.

Portanto, a Torá tem um papel de muita relevância na vida do discípulo de Yeshua, é o que nos orienta quanto ao pecado e nos dirige para viver em justiça.

"Todo aquele que pratica o pecado transgride a Lei; de fato, o pecado é a transgressão da Lei. Vocês sabem que ele se manifestou para tirar os nossos pecados, e nele não há pecado.
Todo aquele que nele permanece não está no pecado. Todo aquele que está no pecado não o viu nem o conheceu.
Filhinhos, não deixem que ninguém os engane. Aquele que pratica a justiça é justo, assim como ele é justo. Aquele que pratica o pecado é do diabo, porque o diabo vem pecando desde o princípio. Para isso o Filho de Deus se manifestou: para destruir as obras do diabo.
Todo aquele que é nascido de Deus não pratica o pecado, porque a semente de Deus permanece nele; ele não pode estar no pecado, porque é nascido de Deus. Desta forma sabemos quem são os filhos de Deus e quem são os filhos do diabo: quem não pratica a justiça não procede de Deus; e também quem não ama seu irmão." 1 João 3:4-10

Mas isso quer dizer que o verdadeiro discípulo de Yeshua não irá mais cometer pecados? Não, muito pelo contrário, quanto mais aprendemos sobre os mandamentos do Eterno, mais vemos o quanto necessitamos de perdão e graça, mas a realidade da vida do discípulo de Yeshua não é mais uma conformidade com a prática do pecado, e sim uma inclinação para a obediência.

Ao tomar consciência de nossos pecados, nos arrependemos, confessamos a Ele nossa falta, pedimos pelo seu perdão e ajuda para que sejamos conformados a Ele em obediência. Isto é o resultado da fé, e é essa fé que leva o crente à vitória. Por isso João perto de concluir sua carta diz:

"Quem é que vence o mundo? Somente aquele que crê que Jesus é o Filho de Deus." 1 João 5:5.

Que sejamos tomados por esta fé que conduz à obediência e à vitória em Yeshua! O Eterno nos abençoe.

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